terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ALENTEJO E DOURO REIS EM MACAU

Quem trabalha com vinhos garante que Macau brinda cada vez mais à vida ao sabor de marcas portuguesas. Douro e Alentejo estão no topo das preferências locais.
Para muitos, "Putaoya" é apenas Portugal em mandarim. No entanto, o significado desta palavra de pronúncia complicada pode ser revelador, já que quer dizer nada mais, nada menos do que "país da uva". Coincidência? Talvez não.

Reconhecidos dentro e fora de portas, os vinhos portugueses coleccionam prémios e um dos mais recentes chegou do Continente, depois de o "TRePA tinto 2007″ter sido colocado na lista do "Ruby Award Top 100 Wines in China 2011" pela revista Wine in China. Apetece dizer que o galardão é apenas mais um a juntar-se a tantos outros. Contudo, tal análise seria pouco cuidada e irrelevante. Pelo menos aos olhos da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

De acordo com dados de 2010, as taxas de crescimento das exportações portuguesas para a China cresceram 155 por cento, tendo atingido os 7,4 milhões de dólares americanos, a que se somaram ainda 2,1 milhões para Hong Kong (mais 123 por cento) e 0,44 milhões para Taiwan (mais 99 por cento). Quanto a Macau, na altura, sofreu um recuo (6,1 milhões de USD, ou seja, menos 5,8 por cento).

Já em 2011, estimativas da AICEP apontavam para um aumento no Continente próximo dos 100 por cento e uma ligeira recuperação em Macau, onde é possível constatar que têm maior protagonismo os vinhos de duas regiões em particular: Douro e Alentejo.

"O interesse, claro, continua a existir", começa por explicar a gerente de marca da empresa de distribuição Seapower, Andrea Chang. "No entanto, temos assistido a uma mudança na procura de vinhos portugueses. Além dos tradicionais, que podem ser encontrados nos supermercados, existem mais pessoas interessadas em algo moderno e com maior qualidade, mais próximo do estilo francês. Os produtores sabem disso, daí que já existam vinhos mais internacionais, com misturas de castas".

Os tintos continuam a ser os mais procurados, mas o mercado também tem espaço para brancos e outras bebidas alcoólicas, caso do champanhe, conhaque e whisky.

A extensa variedade de produtos também se reflecte nas suas origens e, no caso dos produtos vitivinícolas distribuídos pela líder de mercado da RAEM, os principais "adversários" de Portugal são made in França e Itália. Depois, há ainda que contar com a concorrência da Austrália, Chile, Estados Unidos da América (Califórnia), e Nova Zelândia.

"Oferta é enorme"

Em Macau, Tomás Pimenta é um nome indissociável destas lides. E sobre a existência de vinhos portugueses no mercado, o marchand da Vino Veritas considera que "a oferta é enorme".

Quanto ao seu portfólio, destaca a excelência dos vinhos do Douro, não esquecendo os alentejanos. Ambos, na sua opinião, são "líderes". Um facto realçado pela aceitação no mercado: "Ao nível de vendas, no geral, é equilibrado".

Quem também lida, todos os dias, com garrafeiras e palatos mais ou menos apurados é David Higgins. O fundador da casa de vinho Macau Soul, situada junto às Ruínas de São Paulo, não tem dúvidas em afirmar que a qualidade dos vinhos do Douro e Alentejo servem "uma mistura de sabores fantásticos". No entanto, neste "duelo" de excelência, acaba por enaltecer as qualidades do primeiro, já que, no espaço que gere, muitos clientes procuram especificamente os néctares da região norte de Portugal.

"O Douro tem uma imagem trabalhada. Toda a gente já ouviu falar da região", explica Higgins antes de apontar o Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2005 como um dos mais recentes ex-libris da região. Um vinho que, em 2008, foi considerado o terceiro melhor do mundo pela revista norte-americana Wine Spectator.

Crescimento em perspectiva

David Higgins e a sua mulher Jacky há muito que conhecem a realidade de Macau, no que diz respeito aos vinhos. "Nos anos 1960 e 1970, as pessoas que vinham maioritariamente de Hong Kong tinham, aqui, poucas possibilidades de escolha. Mas nos últimos 15 anos, o mercado estendeu-se e a oferta cresceu muito", assinala o casal inglês que tem no seu espaço cerca de 430 vinhos portugueses.

A ajudar a este desenvolvimento está a indústria hoteleira e o sector do jogo, uma vez que ambos "procuram oferecer produtos internacionais de qualidade", aponta Andrea Chag da Seapower. Para a responsável da empresa de distribuição, tanto a RAEM como a RAEHK têm crescido em termos de mercado, mas é no Continente que "existe um verdadeiro aumento". Uma boa razão para apostar, ainda mais, na promoção dos vinhos portugueses em Macau, acredita Tomás Pimenta, que aproveita para lançar um conselho: "Trazer diversos chefs de Portugal e fazer jantares ou almoços com sentido gastronómico. Ou seja, escolhia-se um vinho português para fazer par com alguns pratos". Querem melhor apresentação?

Para todos os gostos

Entre os vinhos do Douro e do Alentejo, o enófilo Luís Herédia realça que existem claras diferenças. Primeiro, porque "não existe só um Alentejo". "Da zona de Estremoz e para cima é possível fazer vinhos mais frescos que conseguem ganhar mais acidez, o que os torna menos pesados. Tem que ver com a altitude do terreno", explica.

No entanto, na restante região o vinho é "bastante frutado e fácil de beber". "O que isto quer dizer? Não tem muita acidez, coisa que, aqui, os chineses não gostam muito".

Quanto à Região Demarcada do Douro, o também vice-presidente da Confraria de Vinhos de Macau destaca que "os vinhos com grande aceitação são os de Cima Corgo e do Douro Superior". Ai, "há terrenos com boa exposição, vinhas velhas bem tratadas, adegas bem apetrechadas que permitem ter vinhos de alta categoria com uma característica: as castas portuguesas, não só como a Touriga Nacional, mas também como a Touriga Franca, Tinta Roriz".

Fonte:
http://pontofinalmacau.wordpress.com/ P.G.

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